Com a inflação a atingir valores máximos, a semana passada ficou para a história com a subida das taxas de juro em 50 pontos base, anunciada pelo Banco Central Europeu (BCE).
Esta foi a primeira vez nos últimos 11 anos que as taxas de juro subiram e superaram, inclusive, as previsões de muitos especialistas.
Para quem comprou casa recentemente e recorreu a um crédito habitação, os próximos tempos vão ser de incerteza e não há dúvidas de que esta subida vai impactar diretamente o orçamento familiar de muitos portugueses.
Neste artigo, vamos ajudá-lo a perceber como é que a subida das taxas de juro se reflete no contexto imobiliário, e de que forma é que pode preparar-se para os tempos de incerteza que se avizinham.
Porque é que as taxas de juro aumentaram?
A subida das taxas de juro surgiu como resposta à subida da taxa de inflação na Zona Euro que, no passado mês de junho, foi de 8,6%. Falamos de um verdadeiro recorde. Em Portugal, a subida dos preços ficou acima da média europeia (9%) e a nossa taxa de inflação é a oitava mais alta da Zona Euro, segundo dados do Eurostat.
Esta subida de preços tem-se sentido principalmente no setor energético, nos bens alimentares e de primeira necessidade, mas também nos serviços.
Como é sentida a subida das taxas de juro no setor imobiliário?
Como as taxas de juro têm impacto direto na taxa de juro Euribor, quem comprou casa recentemente e recorreu a um crédito habitação com taxa de juro variável (ou seja, a maior parte das famílias portuguesas) vai sentir um aumento significativo na prestação mensal da casa.
É de salientar que a subida da taxa de juro Euribor encarece não apenas os novos créditos habitação, mas também os créditos já contratados.
E tudo indica que a tendência será que as taxas de juro continuem a subir. O departamento de análise do banco Bankinter prevê, inclusive, que a Euribor a 12 meses atinja os 1,9% em 2022 e chegue a atingir os 2,2% em 2023!
Isto não são boas notícias, especialmente para quem contraiu um crédito habitação com taxa variável.
Com a certeza da subida de grande parte das prestações mensais, o desafio e a principal incógnita para muitas famílias portuguesas é saber se conseguem encaixar estes sucessivos aumentos no seu orçamento familiar.
Alfredo Valente, CEO da iad Portugal, em entrevista à SIC Notícias, lembrou ainda que, para além disto, a subida das taxas de juro diretoras também contribui para o encarecimento da construção nova, uma vez que os promotores também recorrem à dívida.
Todos estes fatores poderão fazer com que o mercado imobiliário português se torne menos líquido, com menor oferta, e com imóveis a preços substancialmente mais altos (sendo que a tendência é continuar a subir) que atraem a atenção, não das famílias portuguesas, mas dos investidores estrangeiros.
Subida das taxas de juro: um mal menor?
Na mesma entrevista, o CEO da iad Portugal referiu que o aumento das taxas de juro não é, naturalmente, uma boa notícia (para particulares, empresas e para o próprio Estado Português) mas que, no final da linha, poderá ser um mal menor.
Impactando, no imediato, a gestão das finanças de muitas famílias portuguesas, o gestor ressalva que, apesar de tudo, esta é uma medida para tentar controlar a inflação que, nos últimos meses, tem dado sinais de descontrolo.
“Pensando nas famílias portuguesas, se o aumento das taxas de juro vai encarecer a prestação mensal a pagar ao banco das famílias mais endividadas, por outro lado, visa aliviar a escalada dos preços que estava também já a afetar muito a capacidade não só de consumir, como também a capacidade de poupança e de investimento destas famílias”, ressalva.
É seguro comprar casa nesta altura?
Comprar casa continua a ser seguro e, em muitos casos, é uma necessidade efetiva. O que poderá não ser prudente, nesta altura, é promover o sobre-endividamento. Também é recomendado haver um cuidado acrescido com fatores inesperados.
Alfredo Valente relembra que é preciso atender ao contexto de toda a situação:
“Vivemos dois anos de pandemia, ao longo dos quais se gerou uma poupança adicional nas famílias (a maior parte das famílias conseguiu poupar um bocadinho durante esse período) e, à saída da pandemia, o consumo disparou. Basta ver que toda a gente está a investir um pouco mais naquelas tão esperadas e merecidas férias.”
Assim, o CEO da iad Portugal alerta, em especial, os jovens que acabaram de comprar casa e que têm um crédito habitação mais pesado, para a eventualidade de terem de lidar com um aumento de algumas dezenas de euros nas suas prestações, durante os próximos meses.
O responsável refere ainda que o equilíbrio é a chave para combater a subida das taxas de juro.
“O equilíbrio entre o consumo, a poupança e o investimento é, para mim, o desafio das famílias portuguesas.”
“Sabendo que Portugal tem níveis salariais relativamente baixos e que não é fácil uma família conseguir realizar uma poupança significativa, é necessário saber gerir o orçamento familiar existente num cenário onde a prestação da casa vai tornar-se um bocadinho mais cara”, acrescenta.
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A subida das taxas de juro pode comprometer a oferta de imóveis no mercado?
Desde o início da pandemia que o mercado imobiliário português registou uma entrada forte de novos imóveis que antes estavam no mercado de arrendamento turístico.
Contudo, desde então, a oferta de novos imóveis no mercado tem diminuído de forma muito substancial, mas a procura não tem dado quaisquer sinais de abrandamento.
Portugal continua a ser um país muito atrativo aos olhos dos investidores estrangeiros, que representam cerca de 20% dos compradores de casa em território nacional.
Isto leva-nos a crer que a subida das taxas de juro, aliada a um mercado com cada vez menos oferta e com uma procura muito forte, vai fazer com que o acesso das famílias portuguesas a casas novas se torne ainda mais difícil.
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